quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A Guerra Latino-Americana no Iraque


Nas últimas semanas, a ação das empresas de segurança privada no Iraque ganhou enorme destaque na imprensa internacional depois de um massacre de civis em Bagdá cometido por mercenários. O que poucos sabem é que há muitos latino-americanos envolvidos no negócio, como analisa o ótimo artigo de Kristina Mani para a revista americana Foreign Policy. Segundo ela, 1/3 dos soldados privados no Iraque vêm do nosso continente.

O que explica o altíssimo índice de participação? Várias razões. Mão-de-obra qualificada – militares e policiais, muitos deles com experiência de combate no conflito colombiano ou nas guerras sujas do Cone Sul e da América Central. Desemprego e pobreza, que tornam atraente a possibilidade de um tour bem pago no Oriente Médio. Proximidade ideológica com os Estados Unidos. Por essas e outras, as grandes empresas do ramo, como Blackwater e Triple Canopy, recrutam extensamente no Chile, Peru, Colômbia, Nicarágua, Honduras e El Salvador.

O artigo não menciona o Brasil, mas está claro que as condições presentes entre os hermanos também são fortes por aqui. Conversando sobre o tema com meus alunos, eles brincaram que quando a Blackwater descubrir o BOPE, nunca mais sairá do Brasil. Ironia ou não, o irmão de um colega professor, oficial da Polícia Militar, está de malas prontas para a missão de paz em Darfur. A família é só alívio: acha que ele estará mais seguro em meio ao genocídio naquela região inóspita do Sudão do que nas incursões pelas favelas do Rio. O pior é que concordo, apesar da situação em Darfur continuar péssima.

A reação dos governos latino-americanos é um tanto ambígua. Muitos países centro-americanos apóiam a Guerra do Iraque e têm ajudado os EUA nas operações bélicas, alguns inclusive com tropas regulares. Outros, como o Chile, são contra e iniciaram debate sobre legislação para regulamentar a ação dos mercenários.



A discussão também acontece nos Estados Unidos, devido ao furor provocado pelos massacres recentes. Eu sabia da importância dos soldados privados no país, mas desconhecia que eles operam num limbo jurídico – não estão sujeitos nem às leis do Iraque, nem à legislação americana. Isso deve mudar: o Congresso dos EUA acabou de aprovar, por acordo bipartidário, projetos para impor algum controle sobre os mercenários.

Não é pouca coisa. Com o anúncio de que os britânicos irão se retirar do Iraque até o fim de 2008 (antes das eleições gerais de 2009, Gordon Brown não é bobo), provavelmente vai ser um peruano ou guatemalteco que ficará para apagar a luz dessa guerra estúpida.

5 comentários:

Paulo Gontijo disse...

O Márcio Scalercio uma vez escreveu um artigo na Insight Inteligência sobre isso. Maurício, basta comprar a Soldier of Fortune em alguma banca da Av Rio Branco e você poderá em breve disparar fuzis AR-15.
Abs
Paulo

IgorTB disse...

Mau,

Desculpe a brincadeira de mau gosto, mas a única coisa que me vem em mente depois disso é: "Capitão Nascimento neles!"

Maurício Santoro disse...

Caro Paulo,

não sabia do artigo do Scalercio, mas como ele acompanha em detalhes questões militares no Oriente Médio, não posso me surpreender. Será que a Solider of Fortune tem oportunidades de emprego para cientistas políticos? A conferir.

Igor, meu nobre. O capitão Nascimento anda ocupado sendo símbolo sexual, mas ao menos Darfur ficará com o tenente (ou capitão, sei lá) Penha.

Abraços

Paulo Gontijo disse...

Aliás, você já leu o artigo/resenha dele que saiu na última Insight Inteligência, bem interessante.

Maurício Santoro disse...

Paulo,

vou passar pelo IUPERJ na próxima semaa e darei uma olhada na revista, que está sempre na biblioteca, dando sopa. Mas como agora vou pouco ao instituto, acabo perdendo seus artigos.

Abraços