quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Batalha pelos Hidrocarbonetos


Uma das conseqüências da crise econômica global é a diminuição na demanda por petróleo, com a conseqüente queda nos preços. Como se pode ver pelo gráfico acima, o valor do barril vinha crescendo quase sem interrupção desde 1998, e foi para a estratosfera depois dos atentados de 11 de setembro, dos conflitos entre Chávez e a estatal venezuelana PDVSA e da invasão do Iraque. De menos de US$20, saltou para quase US$150 em julho deste ano. Agora despencou de forma acelerada e está por volta de US$65.

Para enfrentar o novo cenário, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), convocou cúpula de emergência, que começa nesta sexta, em Viena. Os líderes da instituição querem reduzir a produção de petróleo, para tentar conter a queda dos preços. O plano mais ambicioso significaria algo como um Kuwait a menos disponível para o mercado, mas análises moderadas afirmam que o acordo deve ficar em metade disso.

A Opep está dividida, controla apenas 40% da produção mundial e tem longa e problemática histórica com esse tipo de movimento de diminuição de extração petrolífera. Os incentivos para os países trapacearem e tentarem boicotar a medida são fortes e isso ocorreu com freqüência em crises do passado. Desta vez, a principal pedra no sapato da organização é a Rússia.

O gráfico abaixo mostra as maiores reservas de petróleo do planeta, com o mapa de cada país redesenhado para refletir sua disponibilidade desse recurso natural. No entanto, a Rússia é a segunda maior produtora mundial, atrás apenas da Arábia Saudita. Isso porque o governo russo vem torrando suas reservas num ritmo suicida – alguns especialistas acreditam que elas poderão estar exauridas em 20 anos.



A Rússia não é membro da Opep, mas tem um diálogo de alto nível político com a organização, e nos últimos anos houve um intenso processo de negociações entre Moscou e as principais capitais do mundo árabe, que pressionam os russos para diminuir sua produção. Não está claro para mim se isso irá ocorrer.

As razões para isso é que Rússia, Venezuela e Irã são mais dependentes do petróleo para equilibrar seus orçamentos do que os países árabes. Estes aprenderam a duras penas com as crises anteriores e diversificaram seus investimentos, principalmente através do mecanismo dos Fundos de Riqueza Soberana. A estimativa é que podem gerir seus Estados sem problemas mesmo que o barril caia a US$40. Já o Irã precisa de US$55, a Rússia de US$70 e Venezuela de US$90. Ou pelo menos, são os valores que incluíram em suas previsões orçamentárias.

Esses países têm tentado lidar com a vulnerabilidade diante do petróleo investindo em outro hidrocarboneto. Ontem Rússia, Irã e Catar anunciaram a criação de uma espécie de “Opep do Gás”, que controlará cerca de 60% das reservas mundiais e responderá pelo abastecimento de boa parte da Europa e da Ásia Meridional. Eventualmente, a Troika poderia ser expandida e incluir outros grandes produtores como Venezuela, Nigéria, Argélia, Egito, Indonésia e Líbia. A União Européia não gostou nada e já declarou que será necessário rever sua política energética para evitar a dependência de uma só fonte. Todos temem virar reféns da nova organização.

6 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Como sempre aprendo com você. Só um comentário. O mapa é do 2006, assim que näo conta as novas reservas brasileiras. Já me resultava extranho que fora täo pequeno seu pais.
Exelente o gráfico da evoluçäo do preço do petróleo desde o 1947. Muito legal, e com boas referenças.
Saludos!

Anônimo disse...

Maurício, ter 20 anos de reserva petrolífera pode ser uma opção. Uns 8 anos atrás a Petrobras tinha reserva para em torno de 20 anos de produção. Hoje em dia, sem contar o pré-sal, a Petrobras tem reservas para 20 anos aproximadamente (mesmo com o aumento da produção). Isso ocorre porque você continua pesquisando e descobrindo novas reservas, além de tornar aproveitável reservas antigas, que não eram contabilizadas antes porque não havia tecnologia para produzí-las, ou o custo não era compensador.

Maurício Santoro disse...

Olá, Patricio.

É verdade, você observou bem. Com o pré-sal, as reservas brasileiras ficam bem maiores.

Oi, Jbrito.

Sim, e os russos também tem exploração de petróleo offshore, principalmente no extremo leste, nas ilhas Sakhalinas. Mas é uma aposta arriscada. Será que ela se pagará?

Avraços

Anônimo disse...

Olá Maurício,

Como funciona esse Fundo de Riqueza Soberana?
E a Bolívia? Seria um país importante para entrar nessa "OPEP do Gas"?
Desculpe as perguntas de leiga!

Deh

Maurício Santoro disse...

Olá, Deh.

Os Fundos de Riqueza Soberana são instrumentos financeiros criados pelos governos para investir no exterior. Em geral eles aplicam recursos oriundos da exploração de riquezas naturais, como petróleo ou minérios.

Os Fundos começaram com a Noruega, que investe desse modo boa parte do que ganha com o petróleo do Mar do Norte, e depois foram adotados por vários países do Oriente Médio e do Leste da Ásia. O Brasil está para criar seu próprio fundo, o Projeto de Lei já está no Congresso.

A Bolívia é uma grande exportadora de gás, mas muito concentrada em dois parceiros: Brasil e Argentina. Não sei se ela acabaria por se juntar à Opep do Gás, mas acredito que seus vizinhos não gostariam da idéia.

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Cara Deh:
Concordo com o Maurício. Além disso, com a crise interna que tem nosso hermano, tenho dúvidas de que pense numa uniäo à "OPEG".
Saludos

Patricio Iglesias