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Estou no Rio de Janeiro desde o dia 20. Vim passar as festas de fim de ano na minha cidade natal, rever família e amigos, e organizar minha mudança definitiva para Brasília. Até agora eu havia vivido na capital em um hotel, com duas malas e roupas para um mês e meio. No próximo dia 2 meu apartamento carioca entra num caminhão e segue para o Planalto Central, para o imóvel que alugo na Asa Sul.
Estas breves duas semanas no Rio estão febris em atividades, há mil pequenos detalhes para resolver, muitas pessoas para encontrar e uma quantidade inacreditável de sacolas com papéis velhos para jogar fora. Inevitável pensar nos belos versos de Herbert Vianna que falam de "cartas e fotografias, gente que foi embora". Como o narrador da canção "eu vi o meu passado passar por mim" e concluí que sem tanto fardo para carregar "a casa fica bem melhor assim".
Foi uma surpresa positiva a quantidade de alunos que me procuraram neste fim de ano, fosse para pedir conselhos, cartas de recomendação, ou simplesmente deixar um abraço. Acho que não foi um professor muito presente em 2008, porque a cabeça parecia estar sempre em outro lugar: na tese de doutorado que precisava ser completada e defendida, nas atividades do Conselho Nacional de Juventude, no concurso para gestor de políticas públicas e finalmente na mudança para Brasília.
Diversos estudantes e amigos comentaram comigo que 2008 deve ter sido o ano mais feliz da minha vida, e só pude rir diante da afirmativa. Foi, de fato, um período de conquistas e mudanças, muito bem-vindas e desejadas. Mas olhando em retrospectiva - neste dia em que elas são inevitáveis - tudo parece ter sido mais fácil, calmo e planejado do que realmente foi. Somem as dúvidas, as noites de sono inquieto, as perguntas sobre se o rumo da vida vai bem. Me vem à mente à bela expressão de Guimarães Rosa sobre "a astúcia das coisas passadas":
Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas - de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo recruzado.
Naturalmente, 2009 será um perído repleto de desafios, e sinto uma disposição muito boa em vivê-los, de me atirar de cabeça nesta onda de renovação que vem pela frente. Que tenhamos, todos, um feliz ano novo.